quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Retrato de uma Vida Miserável

A miséria, a fome, a pobreza é sempre algo que nos toca e causam na maioria das pessoas sentimentos que se confundem entre pena e indignação. Mas quando há o envolvimento de crianças indefesas neste quadro, estes sentimentos tende a se acirrar, tornar-se uma revolta, a procura por explicação, porque o ser humano possuidor de capacidade para influir em seu futuro, pode permitir que seus semelhantes passem por esta privação, por estes sacrifícios?
A fome e a miséria é um acontecimento mundial, mas que tem seu agravante nos países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento como o Brasil.
Dentro das fronteiras nacionais temos regiões com enormes disparidades econômicas, principalmente se compararmos as periferias de grandes cidades. Mas a incidência da pobreza, da fome da miserabilidade é mais latente nas regiões norte e nordeste, sendo está última o principal foco desta reflexão. Famílias numerosas, vivendo sob as mínimas condições de sobrevivência, podem nos parecer num olhar mais crítico que são por sua insistência em permanecer em locais inóspitos com clima adverso e impróprio para agricultura e moradia. Mas ao analisarmos a situação destas famílias, de seus filhos, veremos que a chance de mudança, de melhoria de vida não lhes foi dadas, e as melhorias que poderiam chegar até eles em forma de subsídios do Estado, verbas decididas em gabinetes governamentais de ajuda a estas criaturas, ficam pelos caminhos da burocracia ou então nas mãos de grandes latifundiários, em suas verdes fazendas com suas terras irrigadas com água que provavelmente estaria matando a sede das famílias destes sertanejos, de suas criações, ou irrigando seus pequenos pedaços de terras usadas para o seu precário sustento.
As condições destes trabalhadores, de seus filhos seriam bem diferentes se os responsáveis pelas políticas públicas de inclusão deste povo, fossem menos gananciosos e ávidos pela acumulação de riquezas, e deixassem chegar até estas famílias àquilo que lhes são de direito, o fruto dos impostos que pesadamente nos são cobrados para que tais situações de misérias sejam minoradas ou abolidas de nosso país. Estas famílias de nordestinos, como quase a totalidade daqueles que vivem hoje a margem da sociedade, e que fazem parte das estatísticas mais cruéis dos miseráveis deste país, ainda tem seus direitos civis arrancados, apesar de se propagar seus direitos políticos, de estarem vivendo num país democrático. Um país que possui boa parte de seu povo vivendo estas mazelas não pode nunca se orgulhar de estar entre os mais democráticos do mundo.
Democracia não subentende apenas votar e ser votado, ter instituições livres. É preciso que seus cidadãos possam usufruir suas riquezas nas mesmas proporções, sem discriminação, segregação e principalmente que sua renda possa ser de acesso de todos e não apenas de uma minoria abastada, que está incrustada no poder e no centro das decisões, e que tem apenas o acumulo de capital como objetivo primordial. Já dizia Tancredo Neves na campanha presidencial de 1984 “Nenhum país será totalmente democrático enquanto tiver ainda que um de seus cidadãos sem um prato de comida para alimentar a sua fome”. Se perguntarmos a qualquer membro destas famílias nordestinas o que é democracia, provavelmente dirá que é um prato de comida, um copo de água, um pedaço de terra para cultivar.
Então se estamos num país democrático de direitos, com certeza a democracia de alguns não coincide com a democracia de muitos outros. Talvez, num regime capitalista, que impera em nosso país e em boa parte do mundo, não se consiga acabar com estas desigualdades, mas que não se perca as esperanças, que não se desanime nas lutas travadas nos bastidores por muitas pessoas para que diminua ao menos a distância entre aqueles que nada tem e aqueles a quem foi dado quase tudo. Que a máxima extraída dos escritos de Thomas Hobbes “O homem é mau por natureza. O homem é o lobo do homem”, possa ser desmentida pela história, e que o sentimento de fraternidade e de responsabilidade com seus semelhantes não permita mais que crianças, mulheres e homens morram por inanição num país que se considera o futuro celeiro do mundo.

CLAUDOMIRO FERREIRA DA SILVA
Acadêmico do 5º período de Serviço Social da Faculdade ITECNE
claudomiro@naturium.com.br

Nenhum comentário: