A medicina do trabalho, ou
com a denominação mais atual, saúde do trabalhador é um tema amplamente
debatido no âmbito do capitalismo, pois trata do bem mais precioso das
organizações: a produtividade dos funcionários.
Os estudos referentes a
essa vertente são recentes e ainda estão em desenvolvimento, mas levando em
consideração os trabalhos disponíveis é possível traçar uma idéia de como
começou, seu desenvolvimento e situação atual.
Podemos verificar que com
a explosão da necessidade de mão de obra, surgido na Revolução Industrial na
primeira metade do século XIX, o consumo da força de trabalho - resultante de
um processo acelerado e desumano - estava extinguindo a força vital dos
trabalhadores e um colapso no sistema era questão de tempo, a menos que fosse
feito algo para restabelecer as condições de saúde dos mesmos. Preocupado com
essa situação o proprietário de uma fábrica têxtil Sr. Robert Dernham procura
seu médico particular Dr. Robert Baker e solicita auxilio para resolver o
problema cada vez mais aparente do processo de adoecimento de seus
funcionários. A solução apresentada pelo médico era de ele mesmo ser inserido
no interior da fábrica para verificar as condições de trabalho naquele ambiente
e os efeitos do mesmo sobre as pessoas, sendo de sua total responsabilidade a
ocorrência de problemas de saúde nos trabalhadores. Com o aceite do Sr. Dernham
nasce em 1830 o primeiro serviço de medicina do trabalho.
Este modelo primordial era
centrado na figura do médico, sendo o mesmo onipotente e o responsável pela
manutenção do bem-estar físico e mental dos trabalhadores, e sua prática era
fundamentalmente no ambiente de trabalho.
A partir disso, os
serviços médicos aos trabalhadores começam a refletir no cenário internacional
através da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e tiveram seu primeiro
instrumento normativo de âmbito internacional em 1959, através da Recomendação
112 que aborda aspectos legais, definição, métodos e organização dos serviços.
Com a evolução do processo
industrial, da tecnologia, e principalmente pelos reflexos ocorridos na década
de 40 durante e após a II Guerra Mundial – tanto pela perca quanto pelo
adoecimento de mão de obra, a medicina do trabalho da forma como era vista
começou a apresentar-se impotente para intervir sobre os problemas de saúde da
classe trabalhadora.
Foi necessário agregar
instrumental de outras disciplinas e outras profissões para ampliar a área de
atuação médica direcionada ao trabalhador, nesse contexto multidisciplinar
intervencionista ocorre um upgrade no
conceito de Medicina do Trabalho para Saúde Ocupacional, agregando
conhecimentos da saúde pública sobre riscos ambientais, formas de controle de
agravos e atuação da equipe para minimizá-los. Nesta época foram introduzidos
os conceitos e práticas de enfermagem no âmbito da saúde ocupacional. Prezou-se
por uma abordagem mais científica, visando interferir no ambiente de trabalho
para controlar os riscos ambientais, melhorar as questões de higiene e
qualidade do ambiente ao qual o trabalhador estava exposto.
Cabe destacar que os
ideais da saúde ocupacional não foram plenamente atingidos, pois o modelo
continuou mecanicista, tratando o trabalhador como objeto e a
interdisciplinaridade não foi completamente aceita culminando em um novo debate
acerca do tratamento a ser aplicado aos trabalhadores e uma forma de abordagem
onde fosse aproximado a teoria da prática e houvesse maior interação entre a
equipe de medicina do trabalho e os trabalhadores.
As alterações políticas, o
movimento social e dos trabalhadores, as questões humanitárias e todas as
transformações ocorridas a nível mundial pós II Guerra Mundial determinaram as
mudanças que veremos nas questões da saúde ocupacional.
Desse intenso processo
social de mudança surge uma nova ótica que se enquadra nas questões atuais do
processo de saúde e doença, onde o termo de saúde ocupacional deu lugar a Saúde
do Trabalhador.
Apesar das dificuldades
conceituais e práticas, a saúde do trabalhador busca explicações do adoecer das
pessoas de forma articulada com o conjunto de valores, crenças e idéias. Essa
nova abrangência considera o trabalho no quesito de organizador da vida social,
onde os trabalhadores participam da análise das condições de trabalho e
auxiliam para torná-lo mais saudável. O trabalhador é visto como parte do
processo e indivíduo atuante nas melhorias das condições de trabalho.
A aplicação deste conceito
atual de saúde do trabalhador é positivo, pois mostra uma visão holística do
ambiente, não só de trabalho como do social do indivíduo e busca parceria do
mesmo na resolução dos problemas encontrados baseando o processo de
saúde-doença como marco inicial do trabalho da medicina preventiva.
No Brasil o processo foi
um pouco mais demorado, mas ocorreu nos mesmos moldes internacionais e com o
apelo social e sindical ratificou-se o novo modelo de pensar sobre o processo
saúde-doença e os conceitos de saúde do trabalhador foram incorporados.
Este debate sobre saúde no
âmbito do trabalho ainda está sendo desenvolvido e cabe aos profissionais da
área e meio acadêmico, aperfeiçoar e disseminar novas sementes buscando
expandir os conceitos existentes e criar novas alternativas de desenvolvimento
para a saúde do trabalhador como um todo, melhorando com isso o ambiente de
trabalho e propiciando condições mais dignas ao trabalhador.
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