quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Análise crítica: Da medicina do trabalho a saúde do trabalhador



A medicina do trabalho, ou com a denominação mais atual, saúde do trabalhador é um tema amplamente debatido no âmbito do capitalismo, pois trata do bem mais precioso das organizações: a produtividade dos funcionários.
Os estudos referentes a essa vertente são recentes e ainda estão em desenvolvimento, mas levando em consideração os trabalhos disponíveis é possível traçar uma idéia de como começou, seu desenvolvimento e situação atual.
Podemos verificar que com a explosão da necessidade de mão de obra, surgido na Revolução Industrial na primeira metade do século XIX, o consumo da força de trabalho - resultante de um processo acelerado e desumano - estava extinguindo a força vital dos trabalhadores e um colapso no sistema era questão de tempo, a menos que fosse feito algo para restabelecer as condições de saúde dos mesmos. Preocupado com essa situação o proprietário de uma fábrica têxtil Sr. Robert Dernham procura seu médico particular Dr. Robert Baker e solicita auxilio para resolver o problema cada vez mais aparente do processo de adoecimento de seus funcionários. A solução apresentada pelo médico era de ele mesmo ser inserido no interior da fábrica para verificar as condições de trabalho naquele ambiente e os efeitos do mesmo sobre as pessoas, sendo de sua total responsabilidade a ocorrência de problemas de saúde nos trabalhadores. Com o aceite do Sr. Dernham nasce em 1830 o primeiro serviço de medicina do trabalho.
Este modelo primordial era centrado na figura do médico, sendo o mesmo onipotente e o responsável pela manutenção do bem-estar físico e mental dos trabalhadores, e sua prática era fundamentalmente no ambiente de trabalho.
A partir disso, os serviços médicos aos trabalhadores começam a refletir no cenário internacional através da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e tiveram seu primeiro instrumento normativo de âmbito internacional em 1959, através da Recomendação 112 que aborda aspectos legais, definição, métodos e organização dos serviços.
Com a evolução do processo industrial, da tecnologia, e principalmente pelos reflexos ocorridos na década de 40 durante e após a II Guerra Mundial – tanto pela perca quanto pelo adoecimento de mão de obra, a medicina do trabalho da forma como era vista começou a apresentar-se impotente para intervir sobre os problemas de saúde da classe trabalhadora.
Foi necessário agregar instrumental de outras disciplinas e outras profissões para ampliar a área de atuação médica direcionada ao trabalhador, nesse contexto multidisciplinar intervencionista ocorre um upgrade no conceito de Medicina do Trabalho para Saúde Ocupacional, agregando conhecimentos da saúde pública sobre riscos ambientais, formas de controle de agravos e atuação da equipe para minimizá-los. Nesta época foram introduzidos os conceitos e práticas de enfermagem no âmbito da saúde ocupacional. Prezou-se por uma abordagem mais científica, visando interferir no ambiente de trabalho para controlar os riscos ambientais, melhorar as questões de higiene e qualidade do ambiente ao qual o trabalhador estava exposto.
Cabe destacar que os ideais da saúde ocupacional não foram plenamente atingidos, pois o modelo continuou mecanicista, tratando o trabalhador como objeto e a interdisciplinaridade não foi completamente aceita culminando em um novo debate acerca do tratamento a ser aplicado aos trabalhadores e uma forma de abordagem onde fosse aproximado a teoria da prática e houvesse maior interação entre a equipe de medicina do trabalho e os trabalhadores.
As alterações políticas, o movimento social e dos trabalhadores, as questões humanitárias e todas as transformações ocorridas a nível mundial pós II Guerra Mundial determinaram as mudanças que veremos nas questões da saúde ocupacional.
Desse intenso processo social de mudança surge uma nova ótica que se enquadra nas questões atuais do processo de saúde e doença, onde o termo de saúde ocupacional deu lugar a Saúde do Trabalhador.
Apesar das dificuldades conceituais e práticas, a saúde do trabalhador busca explicações do adoecer das pessoas de forma articulada com o conjunto de valores, crenças e idéias. Essa nova abrangência considera o trabalho no quesito de organizador da vida social, onde os trabalhadores participam da análise das condições de trabalho e auxiliam para torná-lo mais saudável. O trabalhador é visto como parte do processo e indivíduo atuante nas melhorias das condições de trabalho.
A aplicação deste conceito atual de saúde do trabalhador é positivo, pois mostra uma visão holística do ambiente, não só de trabalho como do social do indivíduo e busca parceria do mesmo na resolução dos problemas encontrados baseando o processo de saúde-doença como marco inicial do trabalho da medicina preventiva.
No Brasil o processo foi um pouco mais demorado, mas ocorreu nos mesmos moldes internacionais e com o apelo social e sindical ratificou-se o novo modelo de pensar sobre o processo saúde-doença e os conceitos de saúde do trabalhador foram incorporados.
Este debate sobre saúde no âmbito do trabalho ainda está sendo desenvolvido e cabe aos profissionais da área e meio acadêmico, aperfeiçoar e disseminar novas sementes buscando expandir os conceitos existentes e criar novas alternativas de desenvolvimento para a saúde do trabalhador como um todo, melhorando com isso o ambiente de trabalho e propiciando condições mais dignas ao trabalhador.

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