sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Análise do filme - Um Estranho no Ninho

Este foi um best-seller influente do autor norte-americano Ken Kesey, e que foi transformado em filme de grande sucesso pelo diretor tcheco Milos Forman. É a história de Randall McMurphy, um preso rebelde que finge ser louco para ser transferido para o que ele pensou ser um lugar mais fácil de viver, o asilo de loucos. Contudo, as atitudes do personagem não demonstram nenhum problema na saúde mental o que gera grandes discussões entre ele, a enfermeira Mildred Ratched e os médicos da clínica.
O nome deste filme – Um Estranho no Ninho – reflete bem o seu conteúdo pois mostra a relação, e as conseqüências da relação, entre uma pessoa que ao se inserir numa sociedade "quebra" a rotina da mesma desrespeitando a ordem vigente, mostrando claramente sua propensão às teorias críticas da psiquiatria como a antipsiquiatria. “A doença só tem realidade e valor de doença no interior de uma cultura que a reconhece como tal.” (Foucault).
Ao entrar no sanatório McMurphy observa toda a rotina monótona a qual os pacientes eram submetidos e, como não se adapta a ela tenta mudá-la. Ao fazer isto é reprimido pelos dirigentes, médicos e enfermeiros do local. Por diversas vezes sua insanidade foi contestada mas como era de seu interesse, McMurphy fazia se passar por doente mental.
Se lembrarmos de uma cena do filme estaremos com um caso típico de um anormal sadio, levando em conta que conceito de normal e patológico é extremamente relativo, sempre levando em conta as adequações da sociedade onde o indivíduo esta inserido. A cena em que todos andam em círculos e sentem-se acomodados com aquilo, na mesma cadência, um atrás do outro, em círculo, servindo para uma verdadeira "lavagem cerebral" tendendo exatamente à anulação das vontades individuais, o nosso "anormal" revolta-se e começa a andar em sentido inverso, assustando a todos, que ficam desesperados com a nova situação. Ele passa a ser um anormal que deve ser contido com remédios tranqüilizadores, o comportamento é anti-social, transtorno para o qual, a psiquiatria não tem até hoje, intervenção eficaz e onde afloram os procedimentos mais questionáveis dos hospitais (medicações, eletrochoque e lobotomia)
As punições feitas através de agressões físicas como choques elétricos, visavam na verdade assustar os outros pacientes para evitar que fizessem o mesmo.
Com o passar do tempo os outros pacientes foram encontrando em McMurphy aquilo o que eles gostariam de ter mas não podiam devido à organização da clínica, ou seja, elegeram McMurphy como um líder e ao mesmo tempo como um "protetor" contra as ameaças de punições, já que este não demonstrava medo ao receber uma punição e mantinha o seu principal objetivo: alcançar a liberdade.
McMurphy buscou no sanatório uma forma de tornar-se livre já que por várias vezes foi preso. Imaginou que ao se fazer passar por "louco" teria sua liberdade alcançada pois os loucos podem fazer tudo o que querem já que são loucos. Se o conceito real de liberdade fosse o entendido por McMurphy, ele teria conseguido, mas como não o é o mesmo deveria Ter-se ajustado aos limites de liberdade do sanatório.
Outra parte marcante é quando a enfermeira descobre que McMurphy contrabandeou duas mulheres para dentro da enfermaria, ela ameaça contar para a mãe de um jovem paciente Billy, que se suicida, levando a um enraivecido McMurphy tentar estrangular a enfermeira Ratched, que tendo o sistema em suas mão, convence os médicos a entrarem com uma intervenção cirúrgica para conte-lo. McMurphy é lobotonizado, transformado num zumbi complacente e retorna para a enfermaria onde é aliviado do sofrimento pelo amigo índio que o mata (livrando McMurphy de sua nova existência vegetal) e depois escapa.
O filme em certos pontos demonstra as técnicas da psiquiatra clássica onde a doença é tratada como orgânica, curável com medicamentos ou procedimentos médicos mas em sua essência o estranho no ninho é um poderoso filme antipsiquiátrico e foi baseado na tradução dos estudos de Michel Foucault sobre prisão e loucura
O enredo é altamente eficaz em retratar o sanatório, o uso de drogas, os eletrochoques e a lobotomia como métodos de repressão do livre arbítrio humano. Ele foi tremendamente influente, no que se dispôs a retratar – a teoria de antipsiquiatria. A história é conduzida de modo apoiar os internos, ao invés de seus guardiões. Deste modo o filme demonstrou as atrocidades passadas pelos “loucos” em um sanatório, como o eletrochoque e a lobotomia e reforçou a tese de que estes procedimentos não eram corretos, e não surtiam efeito, levando-os ao desuso por serem consideradas “ferramentas politicamente incorretas", métodos indesejáveis e ditatoriais da sociedade estabelecida para impor castigo e submissão as normas.

10 comentários:

Anônimo disse...

muito interessante esse filme, com certeza vou ver. Gostei muito, do que vi e acho que vou gostar muito do filme.

Anônimo disse...

Eu vi é muito bom pra quem gosta!

Anônimo disse...

Li a análise após assistir o filme. Não tinha entendido a cena em que o Chefe asfixia McMurphy. Agora já tirei essa dúvida. Ótimo filme. E ótima resenha também. Parabéns!!!

Unknown disse...

Não é de se espantar que estava na oitava posição no IMDb (melhor de 250), caiu algumas, mas é um tremendo filme.

Fotos Diversas disse...

Cara, vc deveria ter visto antes, agora vc já sabe que o índio mata o Mc Murphy

PARISCHI disse...

E para ampliar a análise, foram métodos de tratamento aplicados em pleno século XX, que "teoricamente" o cientificismo, fortíssimo no século XIX, estava em declínio, no entanto, a ciência, em essência é autoritária, "ditatorial", por deter a verdade, está acima de subjetividades, ou interesses políticos, sociais. É uma forma de entender como tais métodos foram aplicados, mesmo sendo, comprovadamente perversos.

Anônimo disse...

Qual cena é esta que citam em "A cena em que todos andam em círculos e sentem-se acomodados com aquilo, na mesma cadência, um atrás do outro, em círculo, servindo para uma verdadeira "lavagem cerebral" tendendo exatamente à anulação das vontades individuais, o nosso "anormal" revolta-se e começa a andar em sentido inverso, assustando a todos, que ficam desesperados com a nova situação."?

Unknown disse...

Foi realista a forma como mostraram como é a rotina de um hospital psiquiátrico. Ainda existem muitas enfermeiras Ratched por aí. Jack Nicholson herdou um excelente papel que foi recusado por James Caan, e fez a conta do chá; o papel já era bom por si mesmo. Quem deu show de interpretação, muito bem em todas as nuances de sua personagem foi Louise Fletcher. Magnífica.

Unknown disse...

Foi realista a forma como mostraram como é a rotina de um hospital psiquiátrico. Ainda existem muitas enfermeiras Ratched por aí. Jack Nicholson herdou um excelente papel que foi recusado por James Caan, e fez a conta do chá; o papel já era bom por si mesmo. Quem deu show de interpretação, muito bem em todas as nuances de sua personagem foi Louise Fletcher. Magnífica.

Unknown disse...

Assim pela obra de Foulcault, tb me pareceu que a representação colocada no filme se deu em alegorias, onde a enfermeira, representante do Estado, submetendo sua força sobre os "doentes", que representariam o povo e seus limites psicológicos o limite que o povo apresenta para a tomada de ações. O aparecimento do McMurphy, um "mártir" se pudermos colocar assim, seria o impulso que o povo precisava para a tomada de ações, no filme, a fuga do amigo índio, e num contexto real, uma revolução.
Essa foi uma impressão que me pareceu plausível sabendo que Foulcault tratou sobre poder em algumas de suas obras, em especial "Microfísica do Poder", obra que eu tanto admiro.